De exibição no Canal Futura a finalista em Festival Internacional: conheçam o sucesso do documentário sobre os povos originários do Mimbó

Detalhe do pôster do documentário Mimbó.

 

“Esse documentário é uma ferramenta, sobretudo, antirracista, contra colonial e de protagonismo do povo preto do Piauí.”

A comunidade piauiense do Mimbó, na zona rural de Amarante, local onde vivem mais de 600 pessoas que conservam no sangue e na sua cultura uma história de mais de 200 anos de luta e resistência contra o escravismo, teve sua história transformada em um emocionante documentário. Com Direção de Chico Rasta (@chicorasta) e roteiro de Pádua Carvalho, o projeto tem recebido uma maior visibilidade fora do Estado.

O documentário “Mimbó, Filhos da liberdade” conta a história de 04 irmãos escravizados fugidos de fazendas de Pernambuco, que percorreram pela mata cerca de 680 quilômetros, até o lugar Vila de Amarante, no Piauí. Temendo serem capturados, esconderam-se numa caverna por 30 anos, ao saírem, não sabiam que a escravidão tinha sido abolida. Fundaram o Quilombo Mimbó na margem do Rio Canindé.

Após concorrer a uma seleção pública, o projeto foi vencedor do prêmio Doc Futura, no ano de 2021. Foi produzido no ano de 2022 e foi lançado em 20/11/2022 dia da Consciência Negra na rede de programação especial do canal Futura como parte da programação em comemoração ao mês da Consciência Negra. Em 53 minutos, o doc narra a força da comunidade nas atividades de educação e trabalho e a importância da união em torno da reivindicação dos títulos de posse da terra.

Em 2023, o documentário voltou a ser exibido na programação do Canal Futura em comemoração ao mês da Consciência Negra que marca a data de morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695. O Quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes redutos da resistência negra no período colonial, e perdurou por mais de 100 anos, na Serra da Barriga, em Alagoas. Resistência é a palavra de ordem para a população quilombola.

Em entrevista à Geleia Total o diretor do documentário Chico Rasta ressalta que a história foi conduzida por sua própria narrativa:

“Mimbó é um documentário que a gente considera imersivo, orgânico, sensível, forte, com pouquíssimas intervenções no acontecimento do filme, ele é uma condução feita pela própria narrativa das matriarcas do Mimbó. As três mulheres que são líderes políticas, comunitárias, espirituais da comunidade, são as detentoras da fala. Temos outros personagens importantes que surgem, mas, tudo está sempre dentro do protagonismo da própria comunidade. Então, o documentário tem uma proposta desde o início de entregar à comunidade o seu protagonismo de direito.

“E foi isso que tentamos levar do início ao final do filme, mesmo quando existiam narrações profissionais, buscamos uma narrativa poética feita por uma mulher preta, uma atriz preta que é a Edite Rosa. Ela se coloca na sua interpretação como sendo parte do Mimbó. Então, mesmo quando tem esse momento de narrativa eles conseguem não saltar da proposta que temos, que é a de entregar esse protagonismo para a comunidade. O filme permeia, faz parte e flui naturalmente”, disse.

Com narrativa forte, e impacto social relevante, o documentário “Mimbó, Filhos da liberdade” coleciona um legado de notoriedade. Venceu no ano passado o 12° Doc Futura. E foi um dos finalistas do prêmio internacional TAL de 2023, ressaltando que esse é um concurso das TVs públicas e educativas da América Latina, a Rede TAL Televisión América Latina promove anualmente o Prêmio, reconhecendo produções de destaque de diversos canais dos países que integram a rede.

Também foi inscrito em alguns festivais e foi selecionado para 19ª mostra Internacional de Cinema Negro (2023) que aconteceu em São Paulo no qual faz parte dos filmes selecionados para Science Film Festival, o maior festival de cinema cientifico do mundo, com apoio da Organização das Nações Unidas.

“Foi um documentário muito assertivo no sentido de que ele ganhou muito mais visibilidade do que o esperado pela pauta, a forma que abordada a história, o roteiro e tudo que é o Mimbó em relação a sua grandeza. Então, esse documentário um ano depois de lançado foi reprisado novamente na grade de programação do Canal Futura. O Mimbó tem ganhado essa visibilidade nacional e internacional mesmo depois de 1 ano de lançado, acreditamos que pela força da história desse matriarcado e de tudo que é o Mimbó na sua essência, na sua ancestralidade e que ele ensina como comunidade resistente

“Acredito que o documentário foi muito feliz nessa proposta de protagonizar as pessoas dessa comunidade que no geral nem sempre tem essa oportunidade de falar por si próprio, de falar dos seus desejos, suas vontades, seus medos, seus problemas, suas dificuldades. Sempre tem alguém ali contando por eles, e essa não era a ideia, foi exatamente o contrário. Eu acho que conseguimos entregar um pouco disso, sendo realmente o que nos propusemos a ser enquanto diretor desse tipo de narrativa que é janela, somos só janela, abrimos a janela e deixamos a luz entrar do jeito que ela tem que entrar”, afirma Chico Rasta.

Videoclipe e visita às escolas

O Documentário Mimbó, ‘Filhos da Liberdade’ também serviu de inspiração para o videoclipe da banda Alma Roots com Canções de Redenção, uma tradução de Redemption Song de Bob Marley.

O clipe foi usado em vários eventos nas escolas públicas e particulares, além de atividades acadêmicas durante a programação de novembro que representa o mês da Consciência Negra.

Produção piauiense

Segundo Rasta, o sucesso do Mimbó reflete no seu povo, e inspira outras produções sobre as riquezas e legados conectados à história do Piauí. E aponta que os caminhos para ter uma maior visibilidade não é fácil.

“Olha, ter um filme sendo exibido no país já é algo por si só muito grande para nós que fazemos o audiovisual aqui no Piauí, um Estado ainda com pouquíssima tradição nesse segmento. A equipe que foi acionada para fazer esse material é toda genuinamente piauiense, moramos em Parnaíba, trabalhamos com produção local, acionando e tendo logística com as pessoas da comunidade também.

“Estivemos no Mimbó um pouco antes e promovemos oficinas de audiovisual voltadas para fotografia cinematográfica, voltadas para direção. Acreditamos sim, que temos um potencial para muitas boas histórias contadas pelas pessoas que são daqui.

“Tratamos tudo como uma semeadura, saber ancestral de cuidar bem da semente, cuidar bem da terra, plantar, saber a hora certa de plantar, de respeitar o tempo da natureza. O que a agora está acontecendo são os frutos sendo colhidos, o movimento é sempre circular. Que esses frutos deem novas sementes para que novas pessoas possam dar continuidade a essas plantinhas. É por aí. Então, o saber ancestral ensina isso pra gente, ele é sempre circular.”

Chico Rasta finaliza ressaltando que, a narrativa do Mimbó envolve uma mistura de paixão, de resistência e busca por direitos dentro da sociedade.

“Esse documentário é uma ferramenta sobretudo antirracista, contra colonial e de protagonismo do povo preto do Piauí. O Estado que sabemos que é normalmente muito esquecido pelos demais da federação, um Estado que, infelizmente, ainda está muito aquém das políticas públicas. O audiovisual é ainda muito recente, mas tem nas mãos ótimas histórias, grandes protagonistas, e pessoas que sabem como fazer filmes que chegam no coração, na alma e colocam para refletir.

Então, acredito que antes de tudo, é isso que a pensamos como projeto de vida, como projeto profissional. Aquilo que produzimos são ferramentas com esses três conceitos: contra coloniais, contra racistas e de protagonismo das populações inviabilizadas. Se conseguíssemos, eu acho que atingimos o objetivo que é fazer da nossa arte, do nosso trabalho uma ferramenta que minimize as desigualdades pelas quais a gente que está no Piauí, que o povo do Piauí, que as pessoas das populações tradicionais das minorias enfrentam desde que se entendem enquanto pessoas na sociedade.”

Ficha Técnica

“Mimbó” é uma produção da Framme e Canal Futura

Direção: Chico Rasta
Roteiro: Pádua Carvalho
Produtor: Alexandre Mello
Produção executiva: Alexandre Mello, Maria de Deus Campêlo
Direção de fotografia: Alexandre Rufino
Consultoria de roteiro: Luís Gustavo Ferraz
Equipe de produção (apoio e local): José Williams, Marta Paixão, Roudrigo Minbó, Ramon Paixão
Operadores de Câmera: Chico Rasta, Alexandre Rufino, Vinícius França, Rhuam Ewerton, César Vieira
Assistente de Câmera: Rhuam Ewerton
Eletricista: César Vieira
Fotografia Still: Chico Rasta, Alexandre Mello, Alexandre Rufino, César Vieira, Rhuam Ewerton e Vinícius França
Locução: Edite Rosa
Som: Fabrício Campos
Montagem de som: Lennon XP
Edição: Rhuam Ewerton
Finalização: José Quaresma
Colorização: José Quaresma
Música Riacho do Mimbó: Gilvan Santos
Caracterização: Marta Regina Paixão de Araújo, Raimunda Maria Paixão, Fernando da Costa Rosa, Marcia Cristina Paixão de Araújo, Elizanete Paixão e Silva, Rosildete Paixão Campos, Maria de Jesus Paixão da Silva, Ivandi da Paixão, Grazille Paixão, Sonia Maria Rodrigues, Maria Francisca Bispo Rodrigues, Maria Rita Barreto, Aleine Maria Lima Rodrigues
Bailarinos: Pagode Tradicional do Mimbó
Matérias postais: cidadeverde.com, bbc.com, portalrg.com.br
Assessoria Jurídica: Luciana Mendas
Controller: Fabio Peixoto
Agradecimentos: Associação Comunitária do Mimbó, Museu Casas de Amarante, Helena Moreira de Oliveira, Exú
Líderes de Produção de Conteúdo: Tatiana Milanez
Produção Executiva: Joana Levy
Equipe de Produção: Fabianna Amorim
Coordenadora de Mídias Digitais: Angélica Bastos
Coordenador de Comunicação e Marca: Felipe Conrado
Coordenadora de Operações: Arlécia Duarte
Coordenador de Programação: Ricardo Cardoso
Supervisão Artística: Marcio Motokane
Gerente Adjunto do Canal Futura: Acácio Jacinto
Gerente de Comunicação e Canal Futura: José Brito
Gerente de Produção: Deca Farroco
Secretário-geral da Fundação Roberto Marinho: João Alegria

 

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