Rota invulgar: VIVA A BAIXA GASTRONOMIA!

Antes de começar de verdade, acho que devo me apresentar. Bom, me chamo Juliana! Mas, para os chegados, é Julia. Fui indicada para escrever na secção de gastronomia aqui no nosso conceituado site da Geleia Total. Trabalho com Gastronomia desde os 19 anos e estudei Gastronomia no IFPI. Hoje, aos 23 anos, ainda me encontro na profissão e recebi esse desafio de escrever sobre ela. Encarei-o e aqui estou – disposta a expor toda a minha visão sobre a gastronomia local, pela qual sou apaixonada e quero investigar, descobrir, opinar e compartilhar.

“E foi com isso
Que você me conquistou
Com esse jeito de menina
E esse gosto de mulher
E nada existe em você
Que eu não ame
Sou metade sem você
Mon amour, meu bem, ma femme!”

Ahhh o brega, o contraditório, a contracultura ou na nova linguagem da “gourmetização” de tudo … o kitsch. Quem nunca ouviu Reginaldo Rossi naquele bar capenga adorável, com cerveja barata diretamente de uma grade de cerveja duvidosa e aquele copo americano de responsa com o selo de qualidade que só a secura garante? Provavelmente, foram nesses lugares que muitos tiveram as melhores e mais afetivas experiências.

Pensando nisso conclui que devemos aceitar certos comportamentos rudemente considerados bregas, e olha que para mim “brega” nem é ofensa, veja aí a obra de Reginaldo Rossi, que toca naquele bar, onde a conversa segue e, quando mal percebemos, todos estão dançando e cantando, caindo ou chorando. Desse modo, devemos considerar o que era ser brega na cultura dos mais abastados e compreender que isso vem se ressignificando e sendo entendido como uma forma de expressão, afinal, no fundo, todos nós gostamos da espontaneidade de ser brega, e aceitar um pouco disso é um processo de aceitação da cultura popular e desconstrução dos preconceitos.

Porém, ser brega não é tão fácil, se é para ser brega, que seja de verdade e que se assuma! Nada de ficar no armário! O que eu não gosto mesmo, mudando de pau pra cacete, como dizem os mais velhos, é essa breguice desses restaurantes da zona nobre da nossa querida cidade. É um falso chique, que é brega no mal sentido, em sua maioria.

Nem queria ofender o brega, preciso é de ajuda com outra palavra. Eu chamaria de “Frankenstein”, que no meu vocabulário maluco definiria como colagens com uma versão ruim de cardápios importados; ambientes com design e arquitetura metropolitanos; péssimo atendimento e preços elevados, pouco sabor, nada de beleza e muito Instagram. Que não se ofendam todos… Cada um sabe o que oferece, mas, para mim, há tanta coisa sem sentido!

E você entende o que te vendem?

Se você não entendeu, vamos aos termos: o que é gourmet? O que é a alta cozinha? – Contemporâneo? Experiência gastronômica? – Vocês, com certeza, já ouviram isso por aí. Ei, cuidado com isso! Devemos ter cuidado e respeito com o léxico da gastronomia! É chato ver que as definições se tornaram piada , pois no mundo do marketing burro, no qual tudo é válido, inclusive chamar de gourmet qualquer coisa um pouco melhor, quando na verdade o parâmetro imposto era bem ruim.

Podemos tomar como exemplo o brigadeiro, que é um doce genuinamente brasileiro criado por volta dos anos 40, que foi quando surgiu o leite condensado. O brigadeiro é um doce feito pela mistura do leite condensado com chocolate e manteiga. Com a popularização do achocolatado e o preço acessível, assim como o da margarina, a maior parte dos brigadeiros passou a ser confeccionada com a adição desses últimos produtos citados, resultando num docinho pobre tanto nutricionalmente como em sabor. A Gourmetização trouxe esse resgate e uma forma de diferenciação. Mas, antes de qualquer artificio publicitário, a receita original era exatamente como a primeira!

O que chamam de Alta cozinha veio da França, com a Nouvelle Cuisine, – alta cozinha é quando não deu para fazer no térreo e fizeram a cozinha no sobrado? – Piadas (sem graça) à parte – alta cozinha é comumente abordada como o oposto à baixa gastronomia. Poderíamos definir outro termo bastante utilizado que é o Restaurante Contemporâneo, denominação que em grossos termos seria o que está acontecendo agora, é o que se refere à atualidade e isso se enquadra bastante nos modismos gastronômicos. Ei! Risoto e prato quadrado é coisa dos anos 80. Experiência gastronômica não é colocar um ar-condicionado e bossa nova de fundo. Tá difícil entender? É que eu traduzi para o dicionário invulgar, bem mais honesto.

E o que seria a baixa gastronomia?

Isso vamos descobrir ao longo dessa série de posts. Esse ensaio é a abertura de uma série de postagens e conteúdos semanais, com direito a reflexões e rodeios históricos, a fotografias e a um selo de aprovação do nosso blog com o rótulo “viva a baixa gastronomia” por todos os lugares que vamos conhecer juntos.

Os questionamentos são diversos… baixa por quê? Igualmente boa?  O “Rota invulgar: viva a baixa gastronomia!” é um roteiro às avessas, feito para ser desfrutado com vocês, leitores. E por que isso? Bom, acho que os lugares na cidade falham bastante em tentar fazer uma gastronomia que se define refinada simplesmente pela desculpa da localização. Quero explorar lugares honestos, simples, onde o principal atrativo seja a comida, um petisco ou tira-gosto ou, sequer, algo que chame atenção e que seja acessível – e o principal: em qualquer bairro de Teresina.

Baixa Gastronomia
Nenel, idealizador do baixa gastronomia em BH

Esse projeto tem como inspiração o blog “baixa gastronomia” feito em BH pelo Nenel, um dos maiores entendedores e frequentadores dos “botecos” e botequins raízes de BH, que idealizou um blog em que os personagens não eram grandes chefs ou restaurantes estrelados.

“As comidas abordadas são aquelas altamente saborosas, bem servidas e com custo/benefício vantajoso. Muita fartura, e nada de trufas brancas, ostras ou caviar, com todo respeito que merecem”

Que trazendo para nossa realidade é nada de salmão, filé e risoto.

Já Deu!

Rumbora?

 

Fontes:

Livro gastronomia no brasil e no mundo de Guta chaves.

https://www.otempo.com.br/gastro/cronicas-da-baixa-gastronomia-1.1338583

FESTIVAL BAIXA GASTRONOMIA PERCORRE A CIDADE

 

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2 comentários
  1. Conhecer a comida local na sua essência é fundamental para entender o hábito alimentar de uma população. A comida simples, rica em lembranças é tão ou mais rica qnto um bom prato “gourmet”. Não é a toa que o meu maior ídolo na gastronomia foi e será o saudoso chef Anthony Bourdain… belo texto!

  2. Achei maravilhoso esse projeto, contribui muito para a valorização da nossa gastronomia local, e para construção de uma indentidade. Nas zonas mais periféricas da cidade possuem tantos lugares com comida gostosa, que você sente prazer em ter tido a oportunidade de vivenciar aquela experiência gustativa. Júlia moro no renascença e num dia comum pedir um prato trio cangaia no renascenç1. Era uma carne de sol tão perfeita, com sabor intenso, macaxeira frita e calabresa. Me sentir tão grata naquele momento.😍

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